Por que o Mar no Rio Grande do Sul é marrom?

O Mar no Rio Grande do Sul reserva mistérios e particularidades que muitos desconhecem. Enquanto alguns reclamam da água gelada e da famosa cor “chocolatão”, o mar gaúcho esconde histórias fascinantes e uma biodiversidade única. Neste artigo, vamos explorar as características marcantes do litoral sul brasileiro, desde a temperatura da água até a presença de animais marinhos surpreendentes.

Por que o Mar no Rio Grande do Sul é tão escuro?

Ignácio Moreno, professor de Zoologia da UFRGS, esclarece que a temperatura do mar no Rio Grande do Sul é influenciada por duas correntes marinhas distintas: a Corrente das Malvinas, fria e polar, e a Corrente do Brasil, quente e equatorial. O encontro dessas correntes na costa gaúcha cria um cenário único. No inverno, a corrente fria prevalece, mantendo a água entre 14°C e 16°C. No verão, a temperatura aumenta, mas a influência das Malvinas continua, tornando o mar mais frio que o de Santa Catarina.

A linearidade do litoral gaúcho, sem enseadas, morros ou penínsulas, intensifica a ação dos ventos, alterando rapidamente as condições do mar. Isso contribui para a fama de água gelada e para as frequentes mudanças na temperatura ao longo da costa.

O “Chocolatão” e seus Segredos

Por que o Mar no Rio Grande do Sul é marrom? Por que o Mar no Rio Grande do Sul é marrom? |
Imagem: Félix Zucco / Agencia RBS

O apelido “chocolatão” dado à cor do mar gaúcho não é apenas uma questão estética. O deságue dos rios Mampituba e Tramandaí, somado ao aporte subterrâneo das lagoas costeiras, introduz matéria orgânica e promove a proliferação de algas, especialmente diatomáceas. A Bióloga Dra. Luciana Cardoso destaca que a inclinação do litoral gaúcho, aliada à morfologia favorável, cria condições ideais para a multiplicação dessas microalgas, conferindo a tonalidade característica.

A ausência de barreiras naturais no litoral gaúcho faz com que os ventos exerçam grande influência sobre o mar. A formação de ondas intensas, somada à falta de “empecilhos” no formato retilíneo da costa, resulta em um vai-e-vem agitado da água. A turbulência e a força das ondas contribuem para a aparência turva do mar, especialmente durante períodos ventosos.

Mitos sobre o Repuxo

O professor Moreno esclarece que o repuxo no mar no Rio Grande do Sul segue um ciclo natural. A água que avança inevitavelmente retorna, sendo mais evidente nas chamadas “correntes de retorno” ou “canais”. Esses pontos, conhecidos pelos surfistas, indicam locais onde a água quebrou e retorna para o fundo, criando condições favoráveis para quem pratica o esporte. Para banhistas, é essencial evitar esses pontos devido à maior intensidade do repuxo.

A construção de calçadões e prédios, aliada à retirada de dunas naturais, afetou significativamente o ecossistema costeiro gaúcho. Ignorar a importância dessas dunas, que atuam como proteção natural, resultou em danos aos imóveis e no desequilíbrio ambiental. O zoólogo Moreno sugere a construção de passarelas sobre as dunas para preservar espécies ameaçadas e restaurar parte do ecossistema perdido.

Apesar das críticas ao mar gaúcho, a costa do Rio Grande do Sul é lar de uma incrível variedade de animais marinhos. A influência das correntes tropical e polar cria condições ideais para baleias, golfinhos, botos e até pinguins. A diversidade de espécies, incluindo algumas sazonais, como a mãe d’água e o golfinho pintado do Atlântico, fazem do litoral gaúcho um verdadeiro santuário marinho.

O mar no Rio Grande do Sul, com suas características únicas e biodiversidade exuberante, merece ser explorado e compreendido além das reclamações sazonais. Ao invés de comparar o “chocolatão” ao verde das praias vizinhas, convidamos todos a apreciar a singularidade do mar gaúcho e a preservar seu ecossistema delicado. Com passarelas sobre dunas e conscientização ambiental, podemos garantir que as próximas gerações continuem a desfrutar das belezas e aventuras que o mar do Sul do Brasil reserva.

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Magdalena Schneider

Magdalena Schneider

Bacharel em Psicologia pela Faculdade IENH; especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Universidade Estácio de Sá.
Natural de Dois Irmãos / RS, sempre quis morar em Porto Alegre, e em 2020 realizou esse desejo. Há três anos vem desbravando a capital gaúcha e compartilhando aqui suas experiências.

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